quinta-feira, 30 de julho de 2015

Palavras

"Os andarilhos, as crianças e os passarinhos 
têm o dom de ser poesia." 

Manoel de Barros 

Diálogo com uma turminha que observava o lago cheio de carpas do UniÍtalo:

Menino mais velho – Quem botou os peixes aqui moça, foi você?

Eu – Não, acho que foi o Reitor.

Menino mais novo – Ele botou os peixinhos aqui para a gente amar?

Eu – (risos) é acho que foi sim.

Menino mais velho – Você mora aqui? Eu queria morar aqui, tem pavão, tem natureza.

Eu – Trabalho aqui, é bonito né?

Menino mais velho – Você trabalha aqui? E faz o quê?

Eu – Trabalho com palavras.

Pergunto para cada um, se gostariam de estudar em uma Universidade quando crescessem e o que gostariam de estudar.

Menino mais velho – Eu queria mesmo é conhecer o mundo, é grande né? Quero ser jogador de futebol.

Menino mais novo – Meu negócio é pipa, você sabe empinar pipa moça?

Eu – Não, um dia você me ensina?

Menino mais novo – Ah! Mas isso toda criança sabe fazer!

E de repente a voz de uma menina que só agora eu ouvia me perguntou:

– Moça, quem trabalha com palavras não pode ser criança e fazê-las voarem no céu como pipas?

Senti o coração aquecido por aquela pergunta e, então, respondi:

– Sim minha querida, acho que trabalhar com palavras é fazê-las saírem do papel e se sentir um pouco criança enquanto as vê voarem tão alto, mas tão alto, que todas as crianças do mundo possam ouvi-las e se encantar com elas...

E ouvi uma vez mais aquela doce voz:

– Então é isso que quero fazer aqui, estudar palavras.