quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A Rosa

Rosa trazia os lábios sempre coloridos por um batom, a face iluminada pela aplicação de algumas camadas de blush e os cabelos presos com cuidado, com grampos nas laterais. Vestia-se com roupas simples e imaculadamente limpas e bem passadas.

Trabalhava o dia inteiro sob o sol inclemente da Bahia, era boia-fria.

Saía antes do sol nascer, num caminhão que a levava junto com outros jovens para a fazenda onde trabalhavam no corte de cana-de-açúcar e de onde só retornavam ao final da tarde.

Ganhava cinco reais por dia.

Rosa atravessava o dia desprovida de enfeites ou de algo que lembrasse, ainda que vagamente, sua condição de mulher.

Naquele campo de trabalho, era apenas mais uma entre tantos outros, homens e mulheres, sem rostos, sem identidade, sem sonhos, apenas mão de obra, disponível e barata.

Mas à noite, durante as aulas de alfabetização, ela se permitia ser mulher e, sobretudo, se permitia ter uma vida diferente – a de estudante.

– Professora, eu quero aprender a ler para um dia trabalhar em outra coisa, confidenciou-me numa aula.

Segurei suas mãos calejadas entre as minhas e respondi:

– Rosa, sua força, sua atitude em se por bonita para enfrentar a vida, em fazer das mãos calejadas que seguram enxadas e foices, mãos delicadas que seguram a caneta e traçam linhas, novas histórias, só se encontra em quem tem vocação para ser grande.

Ela sorriu. Um sorriso de carmim que tinha o peso das experiências vividas.

Eu também lhe sorri, feliz em ser professora de pessoas corajosas e com tanta vontade de ser.


2 comentários:

jeamcamilo@gmail.com disse...

E que perfeita beleza... eis ai os tais milagres... que às vezes pedimos tanto à Deus e ei-los ai!
Poesia é viver!!!!!!

BEijos!

Deniz Adriana disse...

Rosa era a própria essência da ternura, da força e da fé na vida. Uma aluna que me permitiu mostrar-lhe outras formas de ver o mundo e partilhou seu próprio mundo comigo.
Um beijo enorme, obrigada pela visita ao blog.