sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A bicicleta verde

Papai Noel,

Anda ausente desde os meus 7 anos quando lhe escrevi uma longa carta e a deixei na janela do meu quarto com o pedido de uma bicicleta. O sr. não apareceu, nem mandou a bicicleta. Mas superei e não guardo nenhuma mágoa do ocorrido. Foi melhor assim.

Um dia a bicicleta chegou, era verde, pequenina, uma beleza mesmo. Minha mãe que trouxe para nós.

Éramos cinco irmãos e tínhamos apenas aquela bicicleta, o que tornou cada passeio nela ainda mais especial.

Cada irmão tinha direito a uma volta pelo povoado em que morávamos, de modo que ao chegar a nossa vez, tentávamos fazer com que o passeio durasse para sempre, em voltas que contornavam toda a praça e o coreto, a igreja, os mercadinhos e o pátio da escola, era tanta emoção que mal cabia no peito.

Orgulhosos sorríamos para quem encontrássemos pelo caminho, alegria é isso, não ter tudo o que se quer, mas aquilo que se precisa. E não precisávamos de mais nada, além daquela volta na bicicleta verde para ser feliz.

Até que a volta terminava e tínhamos que esperar quatro irmãos viverem suas próprias aventuras até chegar a nossa vez de novo.

Aquelas voltas duravam o dia inteiro.

Naquele momento eu abria os olhos para enxergar com nitidez tudo adiante, os rios, as estradas cheias de curvas e retas, as pessoas. Hoje basta que os feche para ver surgir logo adiante os pastos e plantações, os rios e as pedras que contornavam todo o povoado, e a bicicleta verde em voltas sem fim pela imensidão que há diante do olhar de uma criança.

Ainda posso ouvir minha mãe nos chamando da varanda:

- Meninos venham para dentro, o dia já envelheceu!

É mãe o dia envelheceu, eu também, mas o que “em nós já foi menino não envelhecerá nunca”.




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