Rosa trazia os lábios sempre coloridos por um batom, a face iluminada pela aplicação de algumas camadas de blush e os cabelos presos com cuidado, com grampos nas laterais. Vestia-se com roupas simples e imaculadamente limpas e bem passadas.
Trabalhava o dia inteiro sob o sol inclemente da Bahia, era boia-fria.
Saía antes do sol nascer, num caminhão que a levava junto com outros jovens para a fazenda onde trabalhavam no corte de cana-de-açúcar e de onde só retornavam ao final da tarde.
Saía antes do sol nascer, num caminhão que a levava junto com outros jovens para a fazenda onde trabalhavam no corte de cana-de-açúcar e de onde só retornavam ao final da tarde.
Ganhava cinco reais por dia.
Rosa atravessava o dia desprovida de enfeites ou de algo que lembrasse, ainda que vagamente, sua condição de mulher.
Naquele campo de trabalho, era apenas mais uma entre tantos outros, homens e mulheres, sem rostos, sem identidade, sem sonhos, apenas mão de obra, disponível e barata.
Naquele campo de trabalho, era apenas mais uma entre tantos outros, homens e mulheres, sem rostos, sem identidade, sem sonhos, apenas mão de obra, disponível e barata.
Mas à noite, durante as aulas de alfabetização, ela se permitia ser mulher e, sobretudo, se permitia ter uma vida diferente – a de estudante.
– Professora, eu quero aprender a ler para um dia trabalhar em outra coisa, confidenciou-me numa aula.
Segurei suas mãos calejadas entre as minhas e respondi:
– Rosa, sua força, sua atitude em se por bonita para enfrentar a vida, em fazer das mãos calejadas que seguram enxadas e foices, mãos delicadas que seguram a caneta e traçam linhas, novas histórias, só se encontra em quem tem vocação para ser grande.
Ela sorriu. Um sorriso de carmim que tinha o peso das experiências vividas.
Eu também lhe sorri, feliz em ser professora de pessoas corajosas e com tanta vontade de ser.
2 comentários:
E que perfeita beleza... eis ai os tais milagres... que às vezes pedimos tanto à Deus e ei-los ai!
Poesia é viver!!!!!!
BEijos!
Rosa era a própria essência da ternura, da força e da fé na vida. Uma aluna que me permitiu mostrar-lhe outras formas de ver o mundo e partilhou seu próprio mundo comigo.
Um beijo enorme, obrigada pela visita ao blog.
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