sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Os Gatos

Sentada num banco próximo a um canteiro de margaridas, eu esperava.

Enquanto os minutos passavam, observei as pessoas que entravam e saíam apressadas e imaginei que não sorriam por falta de tempo ou porque não viam os gatos. Dezenas deles, brancos, pretos, malhados, de olhos claros, castanhos, negros, gatos pequenos e grandes, dóceis e ariscos.

Um deles encostou-se em meus pés pedindo carinho e logo a seguir ronronou de satisfação com o afago recebido. Pensei em como eram belos em seu jeito despreocupado e preguiçoso de andar de um canto a outro do enorme jardim.

Era meu aniversário. Sempre imaginamos algo especial para fazer nesse dia, qual presente ganharemos. Nosso aniversário também representa o que vivemos e o que ainda vamos viver. E sentada naquele banco olhando os gatos, pensei como seria viver sem essa perspectiva de continuidade e compreendi que não eram os gatos que as pessoas não viam, era o futuro.

Meu primo tinha displasia de medula óssea e estava internado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo em tratamento.

Temos tanta pressa. Pressa em crescer, em entrar na faculdade, em terminá-la e conseguir um bom trabalho, em nos apaixonar, casar, ter filhos, corremos até numa visita a um parente no hospital.

Por que corremos tanto? Para sobrar mais tempo? Mais tempo para quê?

A enfermeira fez sinal para que eu entrasse.

Meu primo me olhou e parecia pedir que lhe desse boas notícias.

Enquanto ele estava internado, a violência aumentou na cidade, as chuvas deixaram algumas pessoas desabrigadas, ainda era alto o índice de desemprego, e alguns times caíram para a segunda divisão, eu poderia lhe falar sobre tudo isso, mas escolhi falar-lhe sobre a quantidade de gatos lá fora, de vida, à sua espera. Não nas coisas que costumamos achar importantes quando temos todo o tempo do mundo, como um emprego melhor, um salário maior, mas nos detalhes, que não levam mais que alguns segundos para serem vistos, percebidos, vividos, como a beleza de um canteiro de margaridas que teima em florescer mesmo dentro de um hospital ou no pedido silencioso de carinho feito por de um gato.

Meu primo sorria quando deixei o hospital. Foi o meu melhor presente.

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