quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Onde mora o coração

Ruas lindas tem meu povoado, algumas igrejas, uma praça e um rio.

Um Mercado Municipal onde escrevemos e encenamos nossa história e de nossa gente.

No pátio da escola fomos reis, princesas e fadas, nos apaixonamos e aprendemos lições com nossos mestres que levaremos para a vida toda.

É um lugar magnífico, de extensões infinitas, um braseiro de sol, pedras, céu.

Seguindo pela estrada que vai pelas montanhas chegamos em Minas Gerais.

A outra estrada leva ao mar.

A estrada que margeia o rio leva à Fazenda em que cresci.

O pau-d'alho de galhos altos, no pequeno cemitério, faz sombra às sepulturas onde descansam meu pai, minha irmã, meus avós e meu tio, muitos amigos e alguns alunos que tive.

Logo adiante tem um campo de futebol, de terra batida, onde comemoramos muitas vitórias e vimos surgir verdadeiros campeões, não do tipo que vencem apenas o jogo, mas as dificuldades todas da vida.

O ponto verde do lado direito é o nosso Sítio Riacho Pequeno, onde cantam pardais, sabiás e bem-te-vis, onde pés de manga, laranja, goiaba, caju e acerola adoçaram nossa infância.

O pequeno rio que o corta transportou nossas embarcações feitas de palhas de bananeira, nos levando para terras distantes, num mundo de faz de conta em que ora éramos piratas, ora capitães a desbravar o oceano que existia diante de nosso olhar.

E ali que parecia tão pequeno, hoje vejo que foi onde me tornei imensidão.


São João do Sul - BA

domingo, 21 de maio de 2017

21 de maio - Dia do Profissional de Letras

Se acredita que estudar Língua Portuguesa é decorar um montão de regras, com certeza abandonará essa ideia ao conhecer um pouco mais o curso de Letras.

Se você gosta de aprender coisas novas descobrirá a história das palavras e seus significados.

Se é amante da leitura, terá a oportunidade de conhecer desde textos de Camões à obra magnífica de Guimarães Rosa.

Se você é paulista, baiano, mineiro, não importa, verá que é cada sotaque, neologismo, regionalismo, que torna nossa língua mais rica, mais bonita!

Se você é estrangeiro, verá que do seu país vieram palavras que “adotamos” e temos um amor tão grande que são como nossas: shopping, edredom, balé, cafuné.

Se você é curioso, verá que nossa língua tem segredos e mistérios, encanto e magia. Já leu Clarice Lispector? Então!

Você verá em versos e rimas, prosa e poesia, a beleza desta língua. E não é só! Ainda vai conhecer muitas outras línguas e culturas e até línguas antigas.

E, principalmente, verá que trabalhar com linguagem e literatura é também uma oportunidade para tornar o mundo melhor e mais bonito!

Parabéns a todos os profissionais de Letras que em diferentes línguas enchem o mundo de encanto, poesia e imensidão.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A bicicleta verde

Papai Noel,

Anda ausente desde os meus 7 anos quando lhe escrevi uma longa carta e a deixei na janela do meu quarto com o pedido de uma bicicleta. O sr. não apareceu, nem mandou a bicicleta. Mas superei e não guardo nenhuma mágoa do ocorrido. Foi melhor assim.

Um dia a bicicleta chegou, era verde, pequenina, uma beleza mesmo. Minha mãe que trouxe para nós.

Éramos cinco irmãos e tínhamos apenas aquela bicicleta, o que tornou cada passeio nela ainda mais especial.

Cada irmão tinha direito a uma volta pelo povoado em que morávamos, de modo que ao chegar a nossa vez, tentávamos fazer com que o passeio durasse para sempre, em voltas que contornavam toda a praça e o coreto, a igreja, os mercadinhos e o pátio da escola, era tanta emoção que mal cabia no peito.

Orgulhosos sorríamos para quem encontrássemos pelo caminho, alegria é isso, não ter tudo o que se quer, mas aquilo que se precisa. E não precisávamos de mais nada, além daquela volta na bicicleta verde para ser feliz.

Até que a volta terminava e tínhamos que esperar quatro irmãos viverem suas próprias aventuras até chegar a nossa vez de novo.

Aquelas voltas duravam o dia inteiro.

Naquele momento eu abria os olhos para enxergar com nitidez tudo adiante, os rios, as estradas cheias de curvas e retas, as pessoas. Hoje basta que os feche para ver surgir logo adiante os pastos e plantações, os rios e as pedras que contornavam todo o povoado, e a bicicleta verde em voltas sem fim pela imensidão que há diante do olhar de uma criança.

Ainda posso ouvir minha mãe nos chamando da varanda:

- Meninos venham para dentro, o dia já envelheceu!

É mãe o dia envelheceu, eu também, mas o que “em nós já foi menino não envelhecerá nunca”.




sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Maria

“Um livro nunca se encerra. Nunca tem fim. 
Não existe apenas uma única vez. 
Ele é a história do leitor. "
Alberto Manguel

No horário do meu almoço, costumo me sentar num banco em frente a um lago cheio de carpas coloridas, ou andar um pouco pelo campus, parando ora para ver os pavões, belos em sua plumagem majestosa, ora para observar os alunos jogarem xadrez, em partidas num enorme tabuleiro.

Hoje chovia quando saí e não pude ver as carpas. Mas vi algo que transformou o meu olhar em imensidão. Sentada num banco no meio de um pequeno bosque, em companhia somente dos livros e de alguns cadernos, uma senhora lia.

Alheia aos pingos de chuva, ao leve vento frio que soprava por entre as árvores, ao pequeno movimento de pessoas em volta, ela lia.

De repente seu olhar se ergueu e ela me sorriu, aproximei-me, pedi licença e lhe perguntei o que lia.

Ela convidou-me para sentar ao seu lado e com generosidade me contou que tinha muita dificuldade para estudar, pois ficara muitos anos longe da escola, e só agora após ter criado os filhos, conseguiu tirar um tempo para si mesma e seus sonhos.

Estava com 65 anos, cursava a Faculdade de Geografia no período da manhã e a Faculdade de Letras no período da tarde. No intervalo entre um curso e outro, lia, buscava conhecer um pouco mais sobre o universo das palavras, sobre as pessoas, os lugares, sobre o que acontecia no mundo dentro e fora da gente.

Enquanto me contava um pouco da sua história, retirou da bolsa, de tecido gasto e marcas do tempo, um pacote de bolacha de água e sal e uma garrafa d’água. Mais uma vez me sorriu e gentilmente me ofereceu o seu lanche simples, sua refeição do dia.

Meu coração se apertou no peito, eu havia acabado de sair do restaurante da Universidade, onde garçons atenciosos serviram pratos fartos, preparados com cuidado, onde não imaginei que do lado de fora alguém sentia fome.

Eu lhe perguntei se gostaria de almoçar, ela recusou com polidez, disse que sua maior fome era de saber, de conhecer mais sobre as palavras.

Então lhe contei que talvez pudesse ajudá-la, trazia na minha própria bolsa de pano o livro "Uma história da leitura" do Alberto Manguel e lhe entreguei, ela pegou com cuidado e me olhou com receio de molhar o livro com as gotas de chuva que ainda caía, eu disse para não se preocupar, podia ler onde quisesse, era um presente meu.

Falei-lhe de um tempo em que também só trazia na bolsa um pacote de bolacha de água e sal para passar o dia, era estudante do Cursinho da Poli e sonhava em um dia cursar uma Faculdade.

Ela quis saber se consegui, eu lhe contei que sim, que fui aprovada no vestibular da PUC-SP onde fui contemplada com uma bolsa de estudos e tive a oportunidade de me formar professora.

Ela me fez uma pergunta inesperada.

- Será que eu consigo?

Eu então lhe respondi:

- Se você tem coragem para enfrentar o frio e a chuva para se dedicar à leitura, de sair da zona norte todos os dias para estudar na zona sul, de se privar do almoço para comprar livros, você já conseguiu o mais importante, ter determinação e fé. Não tenho dúvida de que chegará onde desejar e conte comigo no que eu puder ajudar.

Seus olhos choveram, os meus também.

Gratidão Maria, por seu exemplo de coragem, determinação e fé.

Gratidão por esta trajetória tão digna e tão bonita.

É por poder contribuir com pessoas com histórias como a sua, que tenho imenso orgulho de ser professora.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Felicidade é:

Um fim de tarde na livraria.
Descobrir uma nova edição do seu livro preferido.
Um café quentinho com churros de doce de leite.
Presentear uma criança.
Uma conversa amena, um sorriso espontâneo.
Compartilhar um sonho.
Fazer uma nova amizade.
Ouvir uma canção ao longe.
Tirar uma fotografia.
Ensinar uma caligrafia.
Descobrir o universo no olhar de uma astronauta.
Colorir o mundo com lápis da Faber Castell.
Livros.


quinta-feira, 30 de julho de 2015

Palavras

"Os andarilhos, as crianças e os passarinhos 
têm o dom de ser poesia." 

Manoel de Barros 

Diálogo com uma turminha que observava o lago cheio de carpas do UniÍtalo:

Menino mais velho – Quem botou os peixes aqui moça, foi você?

Eu – Não, acho que foi o Reitor.

Menino mais novo – Ele botou os peixinhos aqui para a gente amar?

Eu – (risos) é acho que foi sim.

Menino mais velho – Você mora aqui? Eu queria morar aqui, tem pavão, tem natureza.

Eu – Trabalho aqui, é bonito né?

Menino mais velho – Você trabalha aqui? E faz o quê?

Eu – Trabalho com palavras.

Pergunto para cada um, se gostariam de estudar em uma Universidade quando crescessem e o que gostariam de estudar.

Menino mais velho – Eu queria mesmo é conhecer o mundo, é grande né? Quero ser jogador de futebol.

Menino mais novo – Meu negócio é pipa, você sabe empinar pipa moça?

Eu – Não, um dia você me ensina?

Menino mais novo – Ah! Mas isso toda criança sabe fazer!

E de repente a voz de uma menina que só agora eu ouvia me perguntou:

– Moça, quem trabalha com palavras não pode ser criança e fazê-las voarem no céu como pipas?

Senti o coração aquecido por aquela pergunta e, então, respondi:

– Sim minha querida, acho que trabalhar com palavras é fazê-las saírem do papel e se sentir um pouco criança enquanto as vê voarem tão alto, mas tão alto, que todas as crianças do mundo possam ouvi-las e se encantar com elas...

E ouvi uma vez mais aquela doce voz:

– Então é isso que quero fazer aqui, estudar palavras.



terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Cotidiano

Sufocou a dor da notícia que acabara que receber, colocou um meio sorriso no rosto e seguiu retirando o lixo dos banheiros.

Numa sala ao lado, alheias às lágrimas que teimavam em cair sobre a face enrugada, pessoas importantes, discutiam temas relevantes.

Pediu licença, entrou sem fazer barulho e retirou o último cesto de lixo.

Se despediu como fazia sempre, com um sorriso no rosto e a sensação de dever cumprido, os vidros reluziam, o carpete estava macio e sem manchas, sobre a mesa os blocos de notas, canetas e lápis descansavam.

Por entre as persianas uma leve brisa assoprava trazendo alento ao calor sufocante de janeiro. Um cheiro doce de flores de jasmim envolvia todo o ambiente.

Seguiu para o velório do irmão que falecera naquela manhã, a vida com suas dores e perdas, não cabia na pauta da reunião de temas relevantes.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

À Espera da Felicidade

Meus irmãos e eu estávamos ansiosos e muitos contentes, nossa prima Aliene chegaria de São Paulo para passar o Natal conosco na Fazenda.

Durante vários dias minha mãe juntou leite e fez requeijão, queijo, doce e deliciosos biscoitos de polvilho para esperá-la.

Estávamos todos na estrada esperando pelo ônibus que a traria.

A cada som de motor, nossos olhos brilhavam em expectativa, que era frustrada quando, na verdade, o que aparecia era um caminhão ou outro carro qualquer.

Só um ônibus passava por aquela estrada. Ele saía pela manhã de Monte Alegre, povoado próximo à fazenda, com destino a Porto Seguro, e só retornava à tarde. Mas o dia já envelhecia no horizonte e nada de Aliene.

Sentamos no chão, um ao lado do outro e continuamos a esperar. Até que avistamos ao longe, um pontinho em meio a uma nuvem cinza de poeira, só podia ser o ônibus. Vinha serpenteando pela estrada até se aproximar o bastante para termos certeza de que logo veríamos Aliene chegar.

Levantamos e pulamos de alegria. Ela chegara! Ela chegara! Gritávamos um para o outro em incontida felicidade.

O ônibus parou bem próximo de onde estávamos e, após alguns segundos intermináveis, Aliene desceu sorrindo e acenando para a gente. Ela abriu o bagageiro e de dentro tirou uma mala enorme, outra menor e algumas bolsas. Corremos para ajudá-la com a bagagem.

Minha mãe saiu na varanda para ver a razão de tamanha algazarra e ao ver Aliene apressou-se a abrir o portão para que entrássemos.

Foram muitos abraços apertados, beijos estalados e nós em volta esperando curiosos para saber o que ela trouxera nas malas.

Não tivemos que esperar muito, percebendo em nossos olhos brilhantes de expectativas o que queríamos, ela começou a abrir a mala maior. De dentro tirou várias coisas, roupas, sapatos, brinquedos. Ficamos atentos para saber a quem ela os daria. Cada um desejando em silêncio ser o primeiro.

Para meus irmãos Ronaldo, Gute e Bruno, ela entregou alguns shorts, camisetas, sapatos e várias bolinhas verdes, tão macias, que pareciam de pelúcia. E nos explicou serem bolinhas de tênis, um esporte muito praticado em São Paulo.

Para minha irmã Renata, um conjunto de saia e blusa rosa, vestidos, enfeites para o cabelo e um ursinho marrom.

Para minha mãe, calça legging, blusas, saias, tênis e um rádio-relógio, que a deixou encantada com suas múltiplas funções. Ela rapidamente o sintonizou numa rádio local e pudemos ouvir muitas canções.

Para mim, trouxe blusas, saias de vários modelos e um conjunto de saia e blusa parecido com o de Renata, porém, o meu era amarelo. Ganhei também dois livros, um contava a história de um Rei que não tinha orelha e o outro, a história da arca de Noé, eram lindos, com várias ilustrações coloridas. Aliene entregou-me ainda, com olhar de cumplicidade, um diário com cadeado. Foi nesse diário que registrei pela primeira vez as minhas ideias e impressões sobre as coisas.

Quando achávamos que já havíamos ganhado tudo que podíamos, Aliene retirou de um canto secreto da mala, duas bonecas Barbies! Deu uma para Renata e outra para mim. Eram lindas, com longos cabelos loiros, vestidos de princesa e sapatos de salto alto.

Enquanto Renata e eu já brincávamos com as bonecas, minha prima continuava a retirar coisas da mala: um tênis AllStar, duas blusas de frio, uma colorida de vermelho, azul e branco, outra branca e rosa.

Contou-nos que foram dos filhos do patrão dela, mas trouxera porque ainda estavam em bom estado e poderíamos usá-las por muito tempo ainda. Pediu para as experimentarmos e a quem servisse pudesse ficar.

Calcei o par de tênis AllStar e serviram direitinho! Eram brancos e fiquei feliz em saber que combinariam com meu uniforme da escola que era branco e azul.

A blusa de frio colorida serviu em Ronaldo. Era cheia de novidades, na parte de dentro havia vários bolsos, a gola podia ser aberta e de dentro saía um capuz, tinha muitos zíperes e botões do lado de fora. Cada manga era de uma cor, uma vermelha e a outra azul.

A outra blusa serviu em mim, era impermeável e toda branca, exceto pelos punhos, gola e zíperes que eram rosas, formando um bonito contraste.

O fato de ser verão e não pudermos usá-las, não diminuiu a minha alegria e a de meu irmão com nossas primeiras blusas de frio. Esperaríamos por um dia chuvoso na Bahia para usá-las, por um dia em que seríamos aquecidos por um calor que não viria do sol, mas do abraço da lã macia.

Aliene trouxe ainda, material escolar para todos nós. E para nossa surpresa ainda tirou mais coisas da mala preta, que a essa altura já acreditávamos ser mágica: uma caixa de panetone, uma caixa de bombons, um saco de balas e pirulitos, várias caixinhas de gelatina, chá em saquinho, que era uma grande novidade para nós, acostumados a colher no quintal de casa, a erva-cidreira e o capim santo para o chá servido com biscoitos quentinhos aos finais de tarde.

Finalmente, deixamos Aliene e minha mãe conversarem a sós, os adultos sempre tinham muitas coisas a dizer. Já o nosso diálogo era silencioso, agradecíamos por ter alguém que cuidaria da gente mesmo na ausência de nosso pai. Agradecíamos por ter um Natal como deveria ser o de toda criança, com presentes, comida na mesa e sorrisos nos rostos.

Aliene voltaria nos anos seguintes, sempre carregada de presentes, sempre cheia de sorrisos, sempre dona de uma alegria que só quem faz uma criança feliz, pode ter.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Carta de Gabriel García Márquez

“Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo o que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e desfrutaria de um bom sorvete de chocolate.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, jorgar-me-ia de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como também a minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas.

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida!… Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor.

Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.

Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir muito, porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer.”

Carta divulgada por Jaime García Marquéz, irmão do autor, que anunciou ao mundo que García Marquéz sofria de uma demência senil, doença que fez com que deixasse de escrever livros, mas que não lhe tirou a força das palavras.

Em cada palavra há beleza, simplicidade, poesia. Em cada palavra há, sobretudo, um aprendizado de humanidade, por isso, quis compartilhá-la.