Vivi com poesia toda a minha vida, sempre olhando as coisas, as pessoas sob um prisma diferente e, nesse meu modo de ver o mundo, um livro era capaz de oferecer escolhas a quem o lesse, que poderia ser o que quisesse no virar de cada página, a educação não seria privilégio de alguns, mas um direito de todos, quer morassem na cidade, ou numa fazenda no interior da Bahia, numa casa de palafita suspensa sobre um rio no Amazonas, ou num lugar destruído pela guerra, como o Timor Leste.
Um dia, numa aula para minha turma de jovens e adultos do Programa Alfabetização Solidária, uma aluna me fez uma pergunta inusitada:
– Professora, eu posso te dar um abraço?
– Sim, é claro que pode, respondi. Mas o que fiz para merecer um gesto tão carinhoso? Nem é meu aniversário, brinquei.
– Ela me abraçou forte e em lugar de responder, contou para mim e para a classe um fato ocorrido naquele dia.
– Hoje fui ao banco, como o fiz durante vários anos da minha vida, para receber o salário pelo trabalho de merendeira da escola, e quando o moço pediu para eu sujar o dedo de tinta e assinar o contracheque, eu pedi uma caneta. Ele me olhou assustado, assim como as pessoas que estavam comigo na fila. Eu também estava assustada, foi a primeira vez que assinei meu nome completo professora, que me senti gente igual a todo mundo.
– O moço observava a caneta em minha mão como se fosse um objeto desconhecido, enquanto via formar no papel, a cada nova letra escrita, o meu nome. Para ele, a caneta não era um objeto desconhecido, mas para mim, até pouco tempo, de fato era. Até pouco tempo, até mesmo o meu nome me era desconhecido. Só naquele momento me dei conta de que sabia ler, lia devagar, mas lia, de verdade.
Minha aluna se chamava Eldi, tinha 50 anos, fazia parte da escola há muito tempo, mas era a primeira vez que fazia parte da escola como estudante.
Foi um dos abraços mais sinceros que já recebi.
Eldi morreu há alguns anos em Salvador. Segundo seus filhos, aprender a ler, foi uma das maiores alegrias de sua vida.
Sem poesia, histórias como essa jamais seriam possíveis.
Um dia, numa aula para minha turma de jovens e adultos do Programa Alfabetização Solidária, uma aluna me fez uma pergunta inusitada:
– Professora, eu posso te dar um abraço?
– Sim, é claro que pode, respondi. Mas o que fiz para merecer um gesto tão carinhoso? Nem é meu aniversário, brinquei.
– Ela me abraçou forte e em lugar de responder, contou para mim e para a classe um fato ocorrido naquele dia.
– Hoje fui ao banco, como o fiz durante vários anos da minha vida, para receber o salário pelo trabalho de merendeira da escola, e quando o moço pediu para eu sujar o dedo de tinta e assinar o contracheque, eu pedi uma caneta. Ele me olhou assustado, assim como as pessoas que estavam comigo na fila. Eu também estava assustada, foi a primeira vez que assinei meu nome completo professora, que me senti gente igual a todo mundo.
– O moço observava a caneta em minha mão como se fosse um objeto desconhecido, enquanto via formar no papel, a cada nova letra escrita, o meu nome. Para ele, a caneta não era um objeto desconhecido, mas para mim, até pouco tempo, de fato era. Até pouco tempo, até mesmo o meu nome me era desconhecido. Só naquele momento me dei conta de que sabia ler, lia devagar, mas lia, de verdade.
Minha aluna se chamava Eldi, tinha 50 anos, fazia parte da escola há muito tempo, mas era a primeira vez que fazia parte da escola como estudante.
Foi um dos abraços mais sinceros que já recebi.
Eldi morreu há alguns anos em Salvador. Segundo seus filhos, aprender a ler, foi uma das maiores alegrias de sua vida.
Sem poesia, histórias como essa jamais seriam possíveis.